Desvendando mitos sobre o uso da Toxina Botulínica (Botox)

Beleza e Saúde
Outubro 07.2016

 

botoxcapa
Fonte foto: Pinterest

A aplicação da toxina botulínica representa o procedimento dermatológico não cirúrgico mais frequente em todo o mundo. Este fato deve-se em grande parte ao alto grau de satisfação por parte do paciente .

Muitas pessoas não sabem, mas o uso da toxina botulínica para fins estéticos, foi descoberto de forma acidental. Na verdade, a medicação foi liberada inicialmente para tratamentos de espasmos musculares. Foi durante uma aplicação corriqueira para tratamento do blefaroespasmo, um tipo de espasmo involuntário que acomete os músculos das pálpebras, que uma médica percebeu uma diminuição acentuada das rugas ao redor dos olhos após o tratamento. A partir desta descoberta o estudo dos efeitos da toxina botulínica no tratamento das rugas de expressão levou a uma verdadeira revolução na dermatologia. E esta revolução não está restrita ao tratamento das rugas, uma vez que novas indicações para o uso da medicação não pararam de surgir. Podemos citar o seu uso em casos de suor excessivo, enxaqueca, dor crônica e até mesmo em casos de depressão.

Mesmo sendo um tratamento já consagrado, ainda são comuns dúvidas e receios por parte dos pacientes. Essas dúvidas acabam levando ao surgimento de alguns conceitos equivocados envolvendo a toxina botulínica. É sobre esses mitos que vou falar a seguir.

Mito número 1: a aplicação da toxina não funcionou em mim!

Com exceção de raríssimos casos de resistência primária (ausência de resposta na primeira aplicação), o relaxamento da musculatura no local da aplicação ocorre na grande maioria dos pacientes. Muitas vezes a sensação de pouco efeito sobre as rugas ocorre não porque o músculo não foi paralisado, mas porque a ruga já estava marcada na pele. Nestes casos é importante avisar ao paciente que a aplicação da toxina botulínica irá atenuar, mas não fará a ruga já marcada desaparecer por completo. As rugas que só aparecem com o movimento dos músculos da face, estas sim, apresentam uma melhor resposta ao tratamento e geralmente desaparecem completamente.

Um efeito menor do que o desejado pode ocorrer em pacientes que tenham músculos mais volumosos, nestes casos a dose deve ser recalculada. Uma resposta insatisfatória também pode ocorrer por conta de outros fatores como o uso associado de outras medicações, por uma diluição inadequada da medicação utilizada, ou pela formação de anticorpos por aplicações repetidas. A aplicação de forma acidental da medicação dentro de um vaso sanguíneo e não no músculo também pode comprometer a sua eficácia. Existem ainda fatores individuais de cada organismo que podem contribuir para um resultado mais fraco em alguns pacientes.

Além disso muitos pacientes acreditam que o efeito só ocorreu quando houve a paralisia completa dos músculos no local da aplicação. A paralisia completa em muitos casos não é o objetivo principal do médico dermatologista ou cirurgião plástico, pois gera um rosto com expressão congelada e muitas vezes artificial. O objetivo principal da aplicação da toxina é o relaxamento da musculatura causando a atenuação das rugas já formadas e impedindo ou retardando a formação de novas. Se isso aconteceu, houve um resultado satisfatório.

Mito número 2 -Quando mais cedo eu fizer a aplicação melhor.

Na verdade, a hora da primeira aplicação não é determinada pela idade do paciente mas sim pelo início da formação de rugas estáticas (rugas que aparecem quando estamos com os músculos do rosto relaxado). Esta é a hora ideal para começarmos a aplicação da toxina botulínica. Aplicar antes da ruga começar a marcar não vai trazer nenhum benefício comprovado e, depois que a ruga já estiver marcada pode ser tarde demais. A idade do aparecimento dessas rugas varia de individuo para individuo. Algumas pessoas chegam a sexta ou sétima décadas de vida sem necessitar do tratamento e outros já apresentam rugas marcadas na segunda ou terceira década de vida.

Mito número 3 -A aplicação vai me deixar dependente se eu não aplicar novamente.

Muito pelo contrário, uma vez que o paciente se submeteu a aplicação da toxina botulínica, mesmo que a contração retorne, as rugas costumam voltar de forma atenuada (foto abaixo). Caso a pessoa não queira aplicar novamente, não haverá nenhum prejuízo. Esta sequência de fotos mostra o paciente antes da aplicação, 30 dias após com quase nenhuma contração, e 10 meses após a aplicação, já com retorno da contração da musculatura, porém com rugas mais suaves do que as observadas na foto antes da aplicação.

Na verdade, o que parece ser um procedimento simples, as vezes oferecido de forma banal não é tão simples assim. E necessário, além do domínio da técnica, o conhecimento profundo da a anatomia da face para não levar a um resultado artificial. Devemos sempre levar em consideração as características físicas do paciente como sexo, idade, padrão de envelhecimento, uso de medicações e condições de saúde de cada um, para que a aplicação tenha um resultado satisfatório.

Sequência de fotos que mostra a característica das rugas antes e após 15 dias, 3, 4 , 7 e 10 meses da primeira aplicação.

botox

Fontes

1-Kruger TH, Wollmer MA. Depression :An emerging indication for botulinum toxin treatment. Toxicon. 2015 Dec 1;107(Pt A):154-7.

2-Sundaram H, Signorini M, Liew S, Trindade de Almeida AR, Wu Y, Vieira Braz A, Fagien S, Goodman GJ, Monheit G, Raspaldo H. Global Aesthetics Consensus: Botulinum Toxin Type A–Evidence-Based Review, Emerging Concepts, and Consensus Recommendations for Aesthetic Use, Including Updates on Complications. Plast Reconstr Surg. 2016 Mar;137(3):518e-529e.

3- Biasi T. Resultados em longo prazo do tratamento cosmético com Botox ®. Revista Expressão Científica volume 1.

 

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Autor: Cristiana Silveira

Dra. Cristiana Silveira, Médica Dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e da Academia Americana de Dermatologia (AAD). É Mestre em Dermatologia pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA). CRM 14456/ RQE 5895

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